Exposição MAM "As margens da história"
Aline Costa Cherini1
Duas Vênus tribais e tatuadas, graciosas e bélicas emergem de uma azulejaria azul e branco. Uma delas tem a mão carregando um delicado escalpo de mulher, a outra
Vênus envolve seu braço em uma grande lança. Porém ambas possuem uma das mãos soltas em um gesto delicado que me faz recordar o gesto de Cristo na imagem do sagrado coração, e neste gesto elas parecem nos chamar.
Acredito não por acaso terem sido essas obras denominadas Figuras de convite, este convite que nos fazem é para a visitação de um universo cheio de ambiguidades, sedução e perigo.
Na série de pinturas denominadas Proposta para uma catequese a artista faz uma releitura da arte barroca, ao reproduzir com óleo e tela paredes de azulejaria
Portuguesa e símbolos da arquitetura barroca de igrejas e palácios. Querubins e formas rebuscadas parecem emoldurar rituais indígenas, danças, antropofagia e empalamento.
Há toda uma tensão entre paganismo e cristianismo, o sagrado revela o profano e o profano emoldura-se pelos símbolos do sagrado.
Na obra Carnes a la Frans Post a artista dialoga com o famoso pintor neerlandês que a serviço de Nassau retratou o nordeste brasileiro do século XVII. Sua pintura é de estilo descritivo, composta por representação bucólica, de natureza, igreja e casa de engenho. Adriana Varejão lança nesta paisagem Franspostiana rasgos, ferimentos de carne exposta em tinta vermelho sangue, e por fim pedaços arrancados da tela, nacos de pele e carne da pintura são servidos em pratos portugueses de porcelana.
Mais adiante em outra parede um globo incompleto indicando ser o Mapa de
Lopo Homem II, esta obra de tinta óleo sobre madeira exibe o continente Africano e
Asiático e entre eles há uma fenda, uma ferida aberta. Certamente lesão proveniente dos tempos da expansão Ibérica, do tratado de Saragoça delimitando a Portugal e Espanha suas zonas de influencia no antimeridiano. As querelas entre as