Existencialismo
Quando a beleza é superada pela realidade Quando nos perdemos nestes jardins de males tropicais Quando no meio de tantos anêmicos respiramos o mesmo bafo de verme de tantos poros animais Ou quando dentro de nossas casas a miséria nos acompanha em suas coisas mais fatais Como a comida, o disco, a roupa, o prato, a pele, O fígado de raiva arrebentando A garganta em pânico E um esquecimento de nós inexplicável Sentimos finalmente que a morte aqui converge Mesmo como forma de vida, agressiva. Glauber Rocha, Terra em Transe, 1967.
Partindo do princípio de que nenhuma nova filosofia possa se construir sem uma revisão e análise crítica dos conceitos produzidos pelos sistemas filosóficos anteriores, nada mais óbvio do que pensar que o projeto filosófico existencialista levado a cabo por Jean-Paul Sartre tenha partido da leitura crítica de pensadores que outrora partiram da mesma questão temática que nos interessa refletir sobre a constituição do ser, principalmente, naquilo que atravessa a compreensão de sua existência no tempo, na sociedade e no interior dos próprios desdobramentos psíquicos do sujeito. Também não é nenhuma novidade que as especulações sobre a origem do ser são tão antigas quanto o nascimento do pensamento racional na Grécia de Socrátes, Platão e Aristóteles. No entanto, dando um salto no espaço e no tempo, no final do século XIX, com o surgimento do positivismo, movimento que apostava nas ciências como instrumento de libertação das mazelas humanas – a partir de sua divisão em diversas disciplinas – acreditou-se que a psicologia, fruto do desdobramento da filosofia, poderia dar conta objetivamente da subjetividade humana. Mas, antes de aprofundarmos esta questão abordada pelas psicologias que pretendem abarcar a complexidade
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psíquica e social do ser através de um método científico, faremos uma pequena trajetória do problema do ser que implicou no nascimento do método fenomenológico e culminou no nascimento da