existe agressao moral sem violencia
A violência não se faz somente em atuações que rompem a estrutura material do ser do outro, quebrando regras ou irrompendo a agressividade sem mediação. Ela se efetiva na linguagem como principal meio e instrumento. Insistimos que não existe violência sem insulto moral. A tese principal, tanto na análise histórica do romantismo de José de Alencar quanto da situação do negro e do estudo da violência praticada contra o índio Galdino em 1997, mostra que quando alguém é tomado como um ninguém o exercício da violência é largamente comandado pela hostilidade inconsciente. Buscamos mostrar que mais além desta asserção moderna que as fantasias brasileiras de democracia racial, passando pelo auto-elogio hiperbólico da mestiçagem, de que ‘somos os melhores, pelo menos no futebol’, entre outras são eivadas de um desconhecimento da realidade histórica e efetiva material. Reconhecendo o gênio do criador do romance brasileiro, realizamos inicialmente a análise do mito Pery e Cecy de O Guarany. O mito disfarça a realidade efetiva da castração, ao mesmo tempo em que fornece uma fantasia nostálgica de algo não ocorrido: uma relação sexual entre um índio e uma Senhora branca. Ato continuado, articulamos criticamente a de-negação deformatória da realidade com cenas da vida brasileira ligada à escravatura, especialmente no racismo brasileiro atual. Finalmente a posição de ninguenidade, termo cunhado por Darcy Ribeiro, designando às populações sem exercício de cidadania é estudado como facilitador de violência. A ninguenidade é estudada então no caso da morte do índio Galdino. Evidencia-se que a posição de ser tomado como ninguém foi o desencadeador da brincadeira grosseira delituosa. A violência neste caso é analisada a partir das teses freudianas onde a linguagem está sempre presente como elemento estruturante da situação e também como veiculo e meio onde a violência se faz.
PALAVRAS CHAVES: Violência, Psicopatologia, Psicanálise, De-negação, Linguagem.
ABSTRACTS