Exegese e Hermeneutica
Percebemos que algumas maneiras de ler a Bíblia acentuam a busca do sentido que o autor original quis expressar para seu público leitor imediato, enquanto outras focalizam o que as palavras de fato consignadas dizem ou são capazes de dizer ao leitor de hoje e de amanhã, independente do autor.
Podemos designar a primeira abordagem – a busca do sentido visado pelo autor no seu contexto ( o sentido histórico-literário ) – com o termo exegese ( = explicação ). Para a outra abordagem, o desenvolvimento de um sentido para nós hoje, usamos o termo hermenêutica ( interpretação ). Em poucas palavras: a exegese histórico-literária procura o que fica para trás do texto (aquilo que condicionou o sentido no momento de sua produção), enquanto a hermenêutica considera o que está à frente do texto (o que ele é capaz de dizer em novas circunstâncias).
Para perceber a diferença entre o sentido histórico de um texto e a aplicação atualizante, podemos mencionar a ousada hermenêutica que Paulo, em Gl 4.21-25, faz da história de Agar e Sara. Paulo vê em Agar – a escrava, mãe dos árabes – o símbolo da Aliança do Sinai, que é o evento mais judaico que existe!É evidente que tal não é o sentido histórico de Gn 16.15s e 17.15s; mas, para Paulo, o monte Sinai é símbolo daquilo que ele chama a escravidão da Lei, e é neste sentido que ele lê e “aplica” o texto ( especificando, inclusive, que o Sinai se encontra na Arábia! ).
Também hoje, muitas vezes, os textos bíblicos se leem num sentido que não era consciente para o autor, mas que não deixa de ser legítimo, porque baseado na mesma compreensão da vida que o texto, profundamente, revela. Pois ler é entender-se com o texto sobre a vida! Apliquemos isso à leitura política de determinados textos. Jesus não foi um ativista político, mas sua luta religiosa para libertar o homem para a justiça e o amor fraterno pode ser lida, por nós