EXAME
O Brasil está preso na armadilha da renda média
O Brasil deixou de ser um país pobre ainda nos anos 60. Desde então, ficamos presos no que se convencionou chamar de “armadilha da renda média”. O que fazer, agora, para não repetir os erros do passado?
Bruno Ferrari, EXAME
Danny Lehman/Latinstock
Bairro do Morumbi, em São Paulo: o Brasil enriqueceu nas últimas décadas, mas não o suficiente para acabar com esse contraste
São Paulo - O paulista Delso William vieira, de 46 anos, não tem, aparentemente, do que reclamar. Quando criança, vivia com os pais numa casa de dois cômodos na periferia de Santos, no litoral paulista. Os confortos da família eram uma televisão em preto e branco, um rádio de ondas curtas e um chuveiro elétrico.
Passadas mais de quatro décadas, Delso, um motorista casado há quatro anos com Maria, de 33 anos, mãe de seu filho, Alexandre, mora em São Paulo em um apartamento de 44 metros quadrados, tem uma televisão de tela plana, um smartphone 3G, um Fiat Siena 2008 e um computador com uma conexão de internet de 4 megabits por segundo.
Após frequentar um curso supletivo, tornou-se o primeiro de sua família a concluir o ensino médio. Com renda domiciliar mensal de 2 800 reais, os Vieira estão na metade da pirâmide social brasileira e são o retrato dos avanços do país nos últimos 40 anos. Em relação a seus pais, Delso deu um salto em todos os sentidos.
Mas ainda assim sente que, não fossem as mazelas brasileiras, como corrupção e serviços públicos ruins, poderia ter um rol maior de conquistas para apresentar. É justamente esse sentimento que o fez apoiar as recentes manifestações de rua que tomaram conta das grandes cidades brasileiras. A vida melhorou — mas nem tanto assim. O Brasil, essencialmente, ainda é o Brasil.
Na cidade de Busan, a 18 000 quilômetros de Santos, Yoo-Sung Moon, de 40 anos, teve uma infância quase idêntica à de Delso. Seu pai era pescador e, em casa, havia exatamente os mesmos eletrodomésticos: uma