Evolução
WALTER A. NEVES
C
Introdução
demonstrar neste artigo, muito já sabemos sobre a evolução de nossa linhagem, a dos hominíneos1 (Figura 1). Mais ainda, tentarei demonstrar como é inquestionável o fato de sermos, como todas as demais criaturas do planeta, resultado de um processo natural de modificação ao longo do tempo; no nosso caso, a partir de um grande símio. Em outras palavras, tentarei, da maneira mais didática que consiga, convencer os leitores de que o homem, inexoravelmente, veio mesmo do macaco, mas por curvas extremamente sinuosas.
Não é menos verdade, porém, que muita coisa ainda precisamos aprender sobre os detalhes desse processo e de como e por que viemos a ser o que somos.
Décadas de pesquisas em campo e em laboratório ainda serão necessárias para que a comunidade científica possa disponibilizar para todo o mundo, dentro e fora da academia, um quadro detalhado do que ocorreu conosco e com nossos ancestrais nos últimos sete milhões de anos, quando nossa linhagem evolutiva se separou do ancestral comum que compartilhamos com os chimpanzés.
Nunca é demais lembrar que os chimpanzés de hoje resultaram também de um processo evolutivo de sete milhões de anos. Prova disso é que, a partir dos chimpanzés comuns, diferenciou-se, há cerca de 2,5 milhões de anos, uma outra linhagem, ainda viva, conhecida como bonobos ou chimpanzés pigmeus.
Para aqueles que como eu se dedicam ao estudo da evolução humana, é muito comum ouvir dos colegas e dos alunos, pelos corredores acadêmicos, que basta um novo fóssil ser encontrado na África para que tudo o que conhecemos sobre nossos antepassados se modifique completamente. Apesar de freqüente, tentarei mostrar também neste artigo que essa afirmação não retrata a realidade.
Claro que, à medida que novos fósseis são encontrados, nossos modelos teóricos tornam-se sempre mais precisos, aproximando-nos paulatinamente da história real, como ocorre em qualquer área do