Evangelho Desencarnado
Eu acompanho a ideia de Claudio Bollini,1 escritor prolífero, quando diz que somos filhos de nossa cultura e, por conseguinte, nosso modo de ver, entender e sentir a realidade é profundamente influenciado pelos valores e desvalores herdados de uma tradição de séculos de pensamento ocidental.
Nietzsche é extremamente crítico à história da filosofia. Ele é um pensador do século XIX. Este século é marcado por uma euforia moderna. A euforia pela ciência. É na modernidade que nasce a paixão pelo futuro – pois, no futuro, o mundo será melhor; as coisas serão diferentes. Coisa muito comum na década de 50.
A história do pensamento humano é a história da negação da vida. É a história de um homem que nunca existiu e jamais existirá.
Para Nietzsche o homem construiu uma imagem de si muito superior do que o homem consegue ser. Indo na contramão do próprio pensamento, Nietzsche esvazia o antropocentrismo que vê o homem como centro de todas as coisas e manda o homem descer desse lugar.
A crítica de Nietzsche à história socrático-platônica
Os valores que Nietzsche acredita que a história do conhecimento nos deu – no conhecimento, na arte, na literatura – é história do pensamento que se baseia, fundamentalmente, na história socrático-platônica.
Para o filósofo alemão nós todos somos vítimas de uma interpretação de mundo e essa interpretação é a interpretação socrático-platônica, que acredita, entre outras coisas, que a ideia (o pensamento) é superior ao corpo; que acredita que o mundo não é apenas o que a gente vive, mas existe outro mundo e este outro mundo é determinado pela ideia, pelo pensamento, mas do que pelo corpo.
Para Nietzsche o pensamento socrático-platônico matou a pluralidade, o devir, um processo extremamente rico de pensamento que existia na Grécia arcaica.
A mitologia grega é uma forma de pensamento, não é a ideia de uma gente maluca que não sabe o que pensa e o que faz. Pelo contrário, a