eu mesmo
372 palavras
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A carta e o índio Um fazendeiro incumbiu a um índio, ainda não de todo civilizado, que fosse levar dez belas frutas a um amigo. Sobre elas colocou uma carta. No caminho, o índio teve vontade de comer uma das frutas. E não se conteve: comeu-a! Ao receber o presente, o amigo do fazendeiro disse ao índio: _ Você comeu uma das frutas? _ Eu? _ Sim. Está faltando uma. _ Como é que senhor sabe? Ora essa! Pela carta. O índio não tinha a menor idéia de como a gente pode registrar as idéias pela escrita e desse modo transmiti-las aos outros. Por isso, olhou com admiração a folha de papel que o outro lhe exibia e disse: _ Ah! Isso conta o que a gente faz?... Eu não sabia! Uma semana depois, o índio foi de novo encarregado, de levar um cesto de frutas ao mesmo homem. Levava também uma carta. No, meio do caminho, pousou a cesta no chão e, pegando na carta, disse: _ Deixe estar, bicho mexeriqueiro, contador do que a gente faz!
Agora você não há de ver o que vou fazer para contar aos outros! Dito isto, sentou-se sobre o envelope. Comeu três das frutas e atirou longe as cascas e os caroços. Então, levantou-se, pós a carta no lugar e continuou no caminho. Mas coitado! Mal chega à casa do amigo do fazendeiro, o mesmo lhe pergunta: _ Então... estavam boas as frutas? _ Não sei, não senhor! _ Como, não sabe?... Pois não comeu três delas? Vendo-se apanhado em falta, o índio, muito sem jeito, confessou: _ Comi, sim senhor. O senhor me desculpe... Mas eu só queria saber como foi que o senhor descobriu... _ É boa! Pela carta! _ Não pode ser, não senhor! O senhor está brincando comigo, porque desta vez eu me sentei em cima dela e ela não viu nada...
O homem sorriu daquela simplicidade, e o índio pôs-se a pensar no caso. Embora não compreendendo tudo perfeitamente, começou a perceber que os sinais escritos deviam servir para transmitir um recado.
Francisco Viana, em Leitura Teatralizada, Editora Clássico-Científica, São Paulo