Eu amo filosofia
“Jamais alguém pôs em dúvida que verdade e política não se dão muito bem uma com a outra, e até hoje ninguém, que eu saiba, incluiu entre as virtudes políticas a sinceridade. Sempre se consideraram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do político ou do demagogo, como também do estadista. Por que é assim?” (p. 283) *
Essa é uma questão filosófica e histórica antiga. Arendt exemplifica com o resgate do mito da caverna de Platão. O ser humano prefere a ilusão à verdade. Na política, como no cotidiano, a verdade pode se tornar insuportável. No fundo, é o velho problema das relações entre os meios e os fins, como bem analisou Maquiavel.
A autora observa que existem a verdade filosófica e a verdade fatual. A primeira é, em geral, restrita ao plano do indivíduo (filósofo) e só tem eficácia quando, inserida no espaço público, torna-se opinião. A segunda, diz respeitos aos fatos, mas estes podem ser interpretados. Eis um tema polêmico: “Mas os fatos realmente existem, independentes de opinião e interpretação? Não demonstraram gerações de historiadores e filósofos da história a impossibilidade da determinação dos fatos sem interpretação (…)?”
A autora defende a existência da matéria factual e, neste sentido, rompe com o relativismo dos que vêem os fatos e a história apenas sobre a ótica das interpretações. A possibilidade de interpretar não justifica que a manipulação dos fatos pelo historiador signifique a sua anulação (como no romance de George Orwell, 1984). Quando os fatos são manipulados, rompe-se até mesmo o direito à interpretações diferentes e cai-se na pura e simples falsificação, mentira. A interpretação é uma forma de reorganizar os fatos de acordo com uma perspectiva específica. Este procedimento é muito diverso do manuseio da matéria factual à maneira das ideologias autoritárias como o