Etnomusicologia
Luis Ferreira (*)
A América Latina é caraterizável pela multiplicidade dos povos afrodescendentes negros na sua geografia: desde as sociedades e culturas predominantemente negras de vários países do Caribe, àquelas como o Brasil, Cuba e Colômbia com uma significativa proporção de afrodescendentes negros, até outras, como a Venezuela, o Uruguai e o Peru com importantes minorias negras. Na última década alguns estudiosos e ativistas nas redes de organizações políticas negras da América Latina referem a esses povos como AfroLatinoamericanos. Os sentidos dos termos "afro" e "latino" devem ser discutidos, sem dúvida, em termos das singularidades nacionais e locais destas categorias e das experiências desses povos, considerando também gênero, classe e etnicidade, histórias locais, regionais e nacionais. No entanto, considerada a extensão que essa discussão implica, apontamos aqui a questão mais política do uso do termo "negro" na região, com uma acepção muito diferente nos países lusofalantes como o Brasil uma categoria social ampla que engloba a idéia de cor e nos hispano falantes em que refere especificamente à cor.
Na experiência mais recente do processo da III Conferência Mundial Contra o Racismo (Durban, África do Sul, 2001) os movimentos e organizações sociais negros da América Latina e do Caribe colocaram o uso do termo afrodescendente na linguagem das organizações sociais negras e dos agentes de governo e agências multilaterais. Este termo passa a ser sinônimo de pessoa negra nos países hispano falantes. Isto é possível porque historicamente quem "passa" a linha de cor apaga da sua genealogia pública os ascendentes negros. No entanto, no Brasil isto não parece possível porque as pessoas brancas freqüentemente informam seus ascendentes negros.