Etnomatemática e Educação matemática
Etnomatemática e educação matemática: uma panorâmica geral 1
Paulus Gerdes apresenta-nos uma revisão cuidada e extremamente completa de estudos em Educação Matemática que envolvem uma perspectiva etnomatemática e fá-lo de forma muito inspiradora na medida em que fornece pistas de trabalho e mostra à evidência a necessidade de investigação neste domínio.
João Filipe Matos
Editorial do número especial da Revista Quadrante (Lisboa, Vol. 5, No. 2, 1996) sobre Aspectos sociais e culturais da aula de Matemática, p. 5, 6.
Este artigo analisa o aparecimento da Etnomatemática como domínio de investigação, apresentando depois uma revisão da literatura relacionada com a etnomatemática, que é feita continente a continente. Por fim, são fornecidas algumas ilustrações de experimentação educacional dentro de uma perspectiva etnomatemática.
Aparecimento da Etnomatemática
A Etnomatemática pode ser definida como a antropologia cultural da matemática e da educação matemática. Como tal, é um campo de interesse relativamente recente, que se situa na confluência da matemática e da antropologia cultural. Como a visão da
Matemática como independente da cultura e universal tem sido a tendência dominante, e provavelmente ainda o é, a Etnomatemática apareceu mais tarde do que as restantes etnociências. Entre matemáticos, etnógrafos, psicólogos e educadores, Wilder, White,
Fettweis, Luquet e Raum podem ser apontados como percursores da Etnomatemática.
Percursores isolados
Na sua palestra pronunciada no Congresso Internacional de Matemáticos, em 1950, e intitulada The cultural basis of mathematics, R. Wilder afirma que não é novo encarar a matemática como um elemento cultural:
“Os antropólogos fizeram-no mas, como o seu conhecimento de matemática é geralmente muito limitado, as suas reacções constituiram geralmente comentários pontuais realtivos aos tipos de aritmética que se podem encontrar nas culturas primitivas” (Wilder, 1950, p.260).
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