Etnoecologia

Hoje em dia com a expansão da “civilização ocidental” existe uma acentuada crise ecológica, de escala planetária, onde os cientistas e a própria ciência são desafiados por novas demandas procurando investigar lugares onde as pessoas que estão sistematicamente em contacto com assuntos “mundanos” mais virados para o global, cada vez mais ocidental1, possam servir de “escape” e de consciencialização para o conhecimento de práticas tradicionais locais, indígenas ou não, que podem ser articuladas com as “globais”. Assim, a Etnoecologia apresenta-se como um campo interdisciplinar dedicado à interação entre os seres humanos e o ambiente vegetal, animal e fúngico2. Pode ser definida, como uma abordagem interdisciplinar que explora a forma como a natureza é vista por grupos humanos através de crenças e conhecimentos, bem como os seres humanos usam as suas imagens para adquirir e gerenciar os recursos naturais. Centrando-se sobre o cosmos (sistema de crenças), o Corpos (reportório de conhecimento ou sistemas cognitivos) e a práxis. 3
Este ensaio é dedicado ao estudo de caso da palmeira juçara4 em comunidades quilombolas5 do Vale da Ribeira, em São Paulo. O estudo remete para a importância que a palmeira tem para os habitantes e as suas várias formas de manuseamento para seu próprio benefício. “Para Posey [1997], os indígenas encontram-se em comunidades embutidas de estilos de vida tradicionais. Identificam-se a si mesmas como indígenas para estabelecer diretos e proteger os seus interesses”.6 Uma vez que a palmeira juçara tem um preponderante papel económico, constituindo a renda das pessoas constituintes da comunidade e sendo consumida por uma população ampla, encontra-se de forma preocupante numa situação de vias de extinção por ser monocaule7. Graças ao seu uso são disponibilizados produtos como, por exemplo, vassouras e ripas para construções civis, bebidas, como o açai de juçara8, e produtos com propriedades terapêuticas, através das suas raízes.
Os entrevistados