Etimologia
A vingança dos prefixos
Conhecer as raízes de certas partículas ajuda a entender a origem das palavras que elas compõem
Por Mário Eduardo Viaro Quando aprendemos a reconhecer as raízes das palavras, estamos a um passo de entender como etimologias são feitas. Mas, uma vez extraída uma raiz, sobram elementos que estão longe de ser supérfluos ou arbitrários.
Os prefixos, por exemplo, explicam muita coisa. Às vezes é possível reconhecer seu valor: uns são transparentes, porque produtivos e o seu significado é óbvio. Todo mundo sabe, por exemplo, que o prefixo re- significa “de novo” e “refazer” é um modo mais sintético de dizer “fazer de novo”. Trata-se de elemento de altíssima produtividade, a ponto de podermos criar facilmente neologismos com ele.
A partir de “etimologia” criei “etimologizar” e daí “reetimologizar” etc. Após inventar essa palavra, fui à internet. Segundo o Google, havia uma única ocorrência dessa palavra (em espanhol). O falante que assume ingenuamente a postura de dono da língua poderia até afirmar que ela “não existe” (ou, paradoxalmente, que “praticamente não existe”).
Um caso em que há muita produtividade, por exemplo, é o do prefixo super-. A partir de uma palavra banal como “caneta”, podemos imaginar “supercaneta”. Todo mundo entende, portanto, que essa palavra existe, mesmo não dicionarizada (de fato, há mais de 10 mil ocorrências da palavra no Google).
Nasce daí a ideia de que, em sincronia, um afixo qualquer esteja associado a uma produtividade e, quanto maior essa produtividade, tão mais convincente se torna a argumentação de que se trata de um morfema, isto é, de um elemento do sistema linguístico e da comunicação que promove.
Um sufixo como -inho praticamente não tem concorrentes na criação de palavras diminutivas portuguesas. Posso tomar uma palavra qualquer (como “quiabo”) e criar o diminutivo correspondente (quiabinho) sem me preocupar se essa palavra existe ou não nos dicionários e tampouco se existe como