Etica e espiritualidade face a situações-limite de vida e de morte
Estamos em tempos de transversalidade dos discursos, buscando convergências nas diversidades, em benefício da qualidade humana, espiritual e cívica dos seres humanos.
Hoje temos consciência clara sobre o limite e o alcance da medicina e da lei com referência ao complexo problema dos doentes terminais e da morte. Pessoalmente estimo que essa questão, lógico, comporta dimensões científicas, técnicas e jurídicas mas também nos remete a questões de natureza cultural e filosófica: qual a imagem que temos do ser humano? Que visão projetamos da vida cuja compreensão mais profunda vem sendo elaborada no interior das ciências biológicas, da moderna cosmologia e de uma compreensão ampliada do do processo da evolução ascendente? Uma nova ótica provoca uma nova ética.
1. O cuidado: essência concreta do ser humano
Sobre isso gostaria de refletir no sentido de levar avante a discussão com a eventual contribuição da filosofia, nomeadamente da ética. Gostaria de articular a reflexão ao redor do tema do cuidado, tão essencial à vida, especialmente à vida humana em seu limite extremo de doença e de morte.
A ética do cuidado é conatural aos médicos e enfermeiros e também aos promotores do direito e da justiça na sociedade. No meu livro Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela Terra tentei vertebrar um pensamento que acolhesse essas questões e as aprofundasse no arco de uma visão mais arquitetônica, própria da filosofia e da ética. Parti de uma conhecida fábula de Higino, um filosófo escravo egípcio-romano, na aparece claramente que a essência do ser humano não reside tanto no espírito e na liberdade, quanto no cuidado.
O cuidado significa uma relação amorosa com a realidade. Importa um investimento de zelo, desvelo, solicitude, atenção e proteção para com aquilo que tem valor e interesse para nós. Tudo o que amamos tambem cuidamos e vice-versa. Pelo fato de sentirmo-nos envolvidos e compromeitos com o