Etica a nicomaco
LIVRO X
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Depois desses assuntos parece que devemos examinar o prazer. De fato, julga-se que ele está intimamente relacionado com a nossa natureza humana, e por isso, ao educar os jovens, usamos os lemes do prazer e do sofrimento para os guiar. Pensa-se também que comprazer-se com as coisas apropriadas e desprezar as que se deve desprezar tem grande influência na formação do caráter virtuoso. Essas coisas nos acompanham durante toda a vida e têm um grande peso e poder em relação à virtude e à vida feliz, já que os homens escolhem o que é agradável e evitam o que traz sofrimento, e são tais coisas, supomos, as que não conviria omitir de forma alguma de nossa investigação, sobretudo por serem objeto de muitas controvérsias.
Com efeito, alguns afirmam que o prazer é o bem, e outros, ao contrário, asseveram que ele é inteiramente mau (alguns dizem isso certamente na convicção de que essa é a verdade, e outros pensando que terá melhor efeito em nossa vida apresentar o prazer como coisa má, ainda que não o seja, pois de fato a maioria das pessoas, pensam eles, tem uma inclinação para o prazer e são suas escravas, motivo pelo qual deveriam ser conduzidas na direção contrária, a fim de alcançarem o estado intermediário).
Todavia, seguramente isso não é correto. Com efeito, os argumentos acerca de sentimentos e ações merecem menos confiança do que os fatos e, desse modo, quando colidem com os fatos da percepção, eles são desprezados e também desacreditam a própria verdade; se um homem que fala mal do prazer é surpreendido alguma vez a buscá-lo, isso parece comprovar que ele, o prazer, merece ser preferido todas as coisas, porque as pessoas, em sua maioria, não sabem fazer distinções.
Os argumentos verdadeiros parecem, portanto, extremamente úteis, não apenas para o conhecimento, como também para a própria vida, pois, como eles se harmonizam com os fatos, nós lhes damos crédito, e desse modo estimulam os que os