Etica Politica e Sociedade

Maquiavel e seus leitores
Talvez não haja, na história intelectual do Ocidente, um pensador que tenha recebido um número tão variado de interpretações como Nicolau Maquiavel, que se tornou, certamente, um pensador muito popular. Mesmo quem nunca leu ou teve algum contato com a obra desse italiano nascido em
Florença, já deve ter ouvido falar ou mesmo empregado o adjetivo maquiavélico. Continuamos a usá-lo para estigmatizar os intrigantes, articuladores, imoralistas, traiçoeiros e enganadores que fazem da política um jogo a seu bel-prazer, distanciando-se, portanto, dos interesses do povo e do bem comum perseguido pela política. Mas, o que Maquiavel teria feito ou escrito que transformaria seu nome em um adjetivo tão conhecido e tão depreciativo?
Maquiavel é um pensador político e, como tal, nos deixou uma série de escritos sobre a política. O seu livro mais famoso e que o tornou mundialmente conhecido é, sem dúvida, O Príncipe, escrito em
1513. Trata-se de um pequeno tratado, redigido em pouco mais de dez dias, em que se ensina ao governante como dominar e conservar novos territórios. A linguagem do livro é muito clara, descritiva, com muitos exemplos históricos e conselhos práticos, que podem ser efetivamente levados a cabo. Mas, se a linguagem desse livro é tão clara, por que teria legado a seu autor interpretações tão diferentes? Aproximadamente 500 anos nos separam da redação desse libreto, e podemos encontrar um número exagerado de visões diferentes sobre ele. Em 1972, O ensaísta Isaiah Berlin (1909-
1997) fez um levantamento encontrando mais de 3 mil livros escritos sobre O Príncipe, de Maquiavel, e, obviamente, devemos considerar esse levantamento desatualizado, pois se continuou a publicar muitas novas interpretações desse opúsculo desde então.
Não há dúvidas de que a bibliografia sobre o filósofo grego Platão é assustadoramente maior do que esse número, mas ainda assim é possível encontrar maiores desacordos no tipo