Etica em 500 anos de brasil
Primeira reunião do JUSTA CAUSA:
Palestra ministrada pelo Professor J. J. Calmon de Passos
Em primeiro lugar, vamos ver se a gente vai provocando o diálogo. Eu acho muito importante que, na medida em que vocês se sintam provocados, vocês interrompam, reajam. Para pensar certo, é preciso que as premissas sejam coerentes com a conclusão que você quer chegar. Na hora em que uma premissa não seja correta, isso prejudica minha conclusão. Se eu colocar alguma coisa para vocês, e vocês se sentirem mal, reajam.
Eu tenho um modo meio simplório de pensar. Eu tenho um cachorrinho. Eu adoro meu cachorrinho e meu cachorrinho não tem nenhum problema ético. Simples, ele é o tipo mais sem vergonha que eu o conheço. Se eu não o policiar, ele faz coisa que não devia fazer, no lugar onde não devia fazer, na hora que não devia fazer. É de uma inconveniência total. E eu não me sinto em condição de culpá-lo. Então eu me pergunto: por que é que meu cachorrinho não tem problema ético? E a gente está aqui numa tarde de sábado considerando a ética uma coisa tão importante que nos tirou do lazer.
As pessoas que já lidaram comigo sabem: eu sou uma pessoa de fé, eu tenho fé, mas eu não aceito que coloque pra qualquer grupo problemas à partir de um posicionamento de fé, porque nem todo mundo tem a mesma fé. Vamos respeitar as pessoas e a sociedade pluralista que é a nossa. Então, eu tento sempre refletir de um modo que não interfere em nenhuma convicção religiosa ou fé. Nós todos temos a nossa fé. Vamos esquecer a fé. Sendo absolutamente descrente, o que me parece que nos leva ao problema ético? Porque o homem perdeu a capacidade de ser disciplinado pelo instinto. Só isso. Há uma socióloga que diz isso muito bem. No momento em que deixou de haver a regulação pelo instinto e se tornou necessária uma regulação social, apareceu o homem. Então, o homem é aquele animal que perdeu o amparo do instinto. O homem