Ethos Linha Direta
Para Jost(2010), ao fazer a escolha dos programas e de programação, uma emissora não só se firma como responsável pelo editorial, mas contribui para construir sua imagem como parceira do telespectador. Sendo assim, a imagem dos valores transmitida pelo programa “Linha Direta”, pode ser interpretada e identificada também como o ethos de sua emissora, no caso a Rede Globo de Televisão.
“Linha Direta” dedicava-se a apresentar crimes que aconteceram pelo Brasil e que não haviam sido completamente solucionados pela justiça. Contava as histórias reconstituindo os fatos com simulações das diferentes versões do caso, geralmente uma tragédia. Com isso, o programa constitui um ethos violento, graças à natureza dos crimes cometidos; dramático, pois mostra a visão de parentes da vítima no momento, geralmente indignadas anos após o ocorrido e tenso, pois a simulação do crime era construída com narrativas a fim de prender a atenção do telespectador até a solução (ou não) do crime.
O caso Lucas Terra¹ é emblemático. Em 2001, quando ocorrido, o crime ganhou repercussão nacional por se tratar de uma barbárie. Seria natural, portanto, o “Linha Direta”, explorar ao máximo a história do menino. Porém, só o fez em 2006, 5 anos após a morte do garoto Lucas. Também no ano de 2006, a Rede Record de Televisão estava próxima de se tornar a segunda maior rede de TV no Brasil em audiência e faturamento, atrás apenas da rede Globo. As duas circunstâncias são interligadas pelo delito contra o garoto Lucas Terra ter sido cometido por um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição religiosa fundada pelo Bispo Edir Macedo Bezerra. Edir também é proprietário da Rede Record de Televisão desde o final da década de 80. Portanto, a Rede Globo, se aproveitando da linha editorial do programa “Linha Direta”, colocou no ar o caso do menino Lucas Terra com a intencionalidade de enfraquecer a emissora concorrente que estava emergindo,