Eterna Juventude
Frei Betto *
O neoliberalismo descobriu o que os alquimistas e cientistas buscavam há séculos: o elixir da eterna juventude. O elixir da juventude, também conhecido como o elixir da longa vida, destinado a eliminar a velhice e a decrepitude, éum mito muito antigo. Os antigos magos acreditavam poder captar as energias vitais universais e concentrá-las nummedicamento universal que manteria o corpo jovem e são, com o objetivo de prolongar a vida de alguns eleitos,contribuindo assim para a evolução da humanidade. Malhar, submeter-se a cirurgias plásticas, vestir-se e agir como se fosse eternamente jovem.
Claro, ninguém está satisfeito com o próprio corpo, exceto os que não prestam muita atenção nele e consideram a velhice bem-vinda. Fora disso, é tratar de encobrir as rugas, esconder a celulite, adotar regimes de fazer inveja a faquir. Sofrer, sofrer muito para ser contemplada como uma nova Vênus ou um novo Apolo. Sofrer no bolso e na auto-estima, na ascese diante de uma suculenta feijoada ou um bolo de chocolate, na perda de horas de leitura e aprimoramento cultural para dedicar-se à esculturação do próprio corpo.
A perenização do presente, como experiência privada, é reflexo da “privatização” filosófica do neoliberalismo, que tem como efeito a glamourização das relações pessoais, criando novos apartheids. São excluídos aqueles que não correspondem aos modelitos do consumismo imperante, como os gordos, os velhos e os feios.
Ficar doente, ter uma deficiência física ou um filho com uma anomalia mental, é caso para esconder debaixo do tapete. Quase todo mundo tem, mas pouca gente sabe.
Quase todo mundo tem na família um parente portador de uma lógica singular considerada maluquice, mas a família morre de vergonha, dá um jeito de esconder. Por quê?
Porque vivemos numa sociedade em que incorporamos os modelitos do consumismo.
Não somos capazes de amar o diferente. Buscamos a semelhança. Ou melhor, reinventar-nos à imagem e semelhança dos atores,