Estética e teoria da arte
1 - O CONCEITO CLÁSSICO DA ARTE
A arte como ofício
A feitura de objetos estéticos tem sido quase universal no discorrer da história humana. Desde o aparecimento do homem moderno, durante o período paleolítico superior, e a bela eflorescência da arte das cavernas nos períodos aurignacianos e magdalenianos, foram relativamente poucos os povos que, em todas as épocas, não produziram artefatos que hoje podemos apreciar esteticamente como coisas de beleza, muito embora já não conheçamos nem aceitemos os valores que eles promoviam.
Durante toda a História, as obras de arte eram artefatos fabricados para promover algum valor ulterior e não, como agora, feitos predpuamente para serem obras de arte, para serem apreciados esteticamente, como aqueles que sobreviveram do passado podem ser apreciados depois de retirados do seu contexto e expostos em museus. Se fôssemos adotar o conceito de obra de arte. sugerida pelo Professor Urmson, "um artefato destinado, em primeiro lugar, à consideração estética" (1),teríamos de excluir a maioria dos produtos de arte que herdamos do passado. À proporção que examinamos a obra de arte do passado, a partir da caverna mais antiga, verificamos que, por variados que fossem os seus usos, de um modo geral, todas as obras de arte eram feitas com uma finalidade. Um fetiche mágico, um templo para honrar os deuses e glorificar a comunidade, uma estátua para perpetuar a memória de um homem (Grécia) ou para assegurar-lhe a imortalidade (Egito), um poema épico para preservar as tradições da raça ou um mastro totêmico para realçar a dignidade de um clã — eram todos artefatos, manufaturados para um fim diferente do que hoje denominaríamos estético. O seu motivo, não raro, era servirem de veículos a valores que ao depois se perderam no esquecimento. Eram essencialmente "utensílios", no mesmo sentido em que o são. uma armadura, os arreios de um cavalo ou objetos de serviço doméstico, ainda que o propósito a