Estudos pré - saussurianos
1 – Considerações preliminares
Os manuais de história da linguística costumam apresentar Ferdinand de Saussure (1857-1913) como o pai da linguística moderna, entendendo por linguística moderna os estudos sincrônicos praticados intensamente durante o século XX em contraste com os estudos históricos, que predominaram no século anterior. Embora possamos concordar com essa perspectiva, é preciso não esquecer que o real impacto do Curso, publicado postumamente em 1916, só começou a aparecer no fim da década de 1920, mais propriamente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Linguística (Haia, 1928), do Primeiro Congresso dos Filólogos Eslavos (Praga, 1929) e da Primeira Reunião Fonológica Internacional (Praga, 1930). Foi principalmente nestes três fóruns de grande porte que primeiro apareceram teses de inspiração saussuriana, em especial pelas mãos de Roman Jakobson (1896-1982) e Nikolai Troubetzkoy (1890-1938). É inegável que Saussure realizou um grande corte nos estudos linguísticos. Suas concepções deram condições efetivas para se construir uma ciência sincrônica da linguagem. A partir de seu projeto, não houve mais razões para não se construir uma ciência autônoma a tratar exclusivamente da linguagem, considerada em si mesma e por si mesma, e sob o pressuposto da separação estrita entre a perspectiva história e a não-histórica. Seu ovo de Colombo foi não só mostrar que a língua poderia (e deveria) ser tratada exclusivamente como uma forma (livre das suas substâncias), mas principalmente como esta forma se constituía, isto é, pelo jogo sistêmico de relações de oposição – funcionando este jogo de tal modo que nada é num sistema linguístico senão por uma teia de relações de oposição. E, por outro lado, nada interessa numa tal perspectiva sistêmica salvo o puramente imanente. Embora à primeira vista haja no gesto de Saussure uma ruptura com o modo de fazer linguística do século