Estudos das culturas
GÉNESE SOCIAL DO TERMO E DA IDEIA DE CULTURA
CUCHE, Denys, A noção de cultura nas ciencias sociais. 2ª. Ed. (trad. Miguel Serras Pereira). Lisboa: Fim de século edições, 2003, p. 29-38.
As palavras têm uma história e, em certa medida, as palavras fazem também a história. Isto, que é verdade para todas as palavras, torna--se particularmente verificável no caso do termo "cultura". O "peso das palavras", para retomarmos uma expressão mediática, revela-se carregado desta relação com a história, com a história que as fez e com a história que as palavras contribuem para fazer. As palavras aparecem para responder a certas interrogações, a certos problemas que se põem em períodos históricos determinados e em contextos sociais e políticos específicos. Nomear é pôr o problema e, ao mesmo tempo, já, de certa maneira, resolvê-lo. A invenção da noção de cultura é em si própria reveladora de um aspecto fundamental da cultura no interior da qual essa invenção foi possível, e a que chamaremos de momento, à falta de termo mas adequado, a cultura ocidental. Inversamente, é significativo que a palavra "cultura" não tenha equivalente na maior parte das línguas orais das sociedades que os etnólogos habitualmente estudam. O que não implica, evidentemente (ainda que se trate de uma evidência que não é universalmente compartilhada!), que essas sociedades não tenham cultura, mas sim que não põem a si próprias a questão de saber se têm ou não uma cultura e, menos ainda, a questão de definirem a sua cultura. É por isso que, se quisermos compreender o sentido actual do conceito de cultura e o seu uso em ciências sociais, se torna indispensável reconstituirmos a sua génese social, a sua genealogia. Por outras palavras, trata-se de examinarmos o modo como se formou o termo e, em seguida, o conceito científico que daquele releva, determinando a sua origem e a sua evolução semântica. Não nos entregaremos aqui a uma análise