Estudo sobre o tema
Ruth C. L. Cardoso e Helena Sampaio
Introdução
De um modo geral, os estudos clássicos sobre a juventude, sobretudo aqueles que procuram enfatizar os diferentes modos de ser jovem na sociedade moderna, tomam o trabalho como um indicador privilegiado para identificar, de maneira contrastiva, dois segmentos da juventude: de um lado, o grupo constituído por jovens estudantes; de outro, o formado por jovens trabalhadores. A noção de trabalho, funcionando como um divisor de águas, transforma-se em um marco rígido: o que caracteriza o jovem trabalhador é sua precoce inserção no mercado de trabalho, através do exercício de uma ocupação de pouco prestígio e baixa remuneração. Em uma situação oposta, encontram-se os jovens que, por prolongarem sua formação escolar, - incluindo a formação de nível superior - postergam também sua entrada no mercado de trabalho. Todavia, uma vez inseridos nesse mercado, os jovens diplomados passam a ocupar cargos de prestígio e a obter salários elevados. O que está por trás desse tipo de análise é a idéia de que trabalho e estudo são situações mutuamente excludentes. Nem a formação de nível superior faz parte do universo dos jovens trabalhadores nem o trabalho é cogitado pelos jovens universitários.
E verdade que o objetivo de grande parte desses estudos consiste em buscar o que há de mais específico nesses grupos juvenis e, desse modo, as atividades ligadas ao trabalho ou à condição de estudante tornam-se o eixo em torno do qual suas identidades, envolvendo aspectos simbólicos e políticos, são constituídas.(1) É nesse quadro de uma sociologia diferencial da juventude que J. Habermas, L.F. Ch. Oehler e F. Weitz discutem o comportamento político dos estudantes. (2) A especificidade do comportamento político desse segmento explica-se pela forma particular de inserção do grupo na sociedade. Ou seja, é enquanto um não profissional, um não trabalhador, que o estudante tende a orientar seu