Estudo Sistema Monetário
Michel Aglietta
Introdução
Ocupar-se das perspectivas do sistema monetário internacional (SMI) é arriscado pelo menos por três razões. Primeira, não existe esquema teórico, que seja sólido e amplamente aceito, para analisar a economia monetária internacional. Segunda, o processo de globalização financeira é excessivamente novo para permitir uma avaliação precisa dos problemas envolvidos na regulação macroeconômica internacional. Terceira, pode-se ser facilmente acusado de ingênuo caso se proponha a coordenação intergovernamental ou caso se esboçe planos grandiosos para reforma monetária internacional.
As dificuldades práticas e conceituais enfrentadas pelos estudos dos problemas monetários internacionais decorrem da própria natureza da moeda. A moeda, enquanto o elo social mais básico e vital das sociedades modernas, tem um papel de coesão crucial para o sistema econômico. Mas ela é, também, politicamente determinada. A moeda pode ser motivo de rivalidade ou de paz na ordem política. No campo das relações monetárias internacionais, regras que foram mutuamente aceitas podem vir a ser rejeitadas por terem se tornado injustas e ineficientes.
O SMI pode prover níveis elevados de regulação da economia mundial mas, também, os mecanismos mais vulneráveis a mudanças. Hoje não há nenhum condutor incontestável, no conceito das nações, capaz de eliminar os conflitos decorrentes de interações estratégicas. Não há, também, poder supranacional soberano que garanta a confiança na moeda amplamente utilizada. O século XX assistiu ao declínio do padrão ouro, que tinha um estatuto monetário implícito, e ao desenvolvimento de moedas nacionais. Desde a Primeira Guerra Mundial, as moedas nacionais estiveram sujeitas a objetivos políticos. Sua regulação internacional tornou-se problemática. Os idealizadores de Bretton Woods foram perspicazes ao planejar um sistema cooperativo e simétrico em