Estudante
Clifford Geertz
O problema da ligação entre o homem e os restantes animais tem sido tema constante nas ciências humanas. A partir de Darwin, deixou-se praticamente de duvidar da existência de tal relação. Mas no que respeita à natureza desta relação e especialmente ao seu grau, o debate tem sido muito mais amplo e não completamente esclarecedor. Alguns estudiosos, em particular aqueles que se dedicam às ciências biológicas — zoologia, paleontologia, anatomia e fisiologia —, revelaram a tendência de dar demasiado ênfase ao parentesco existente entre o homem e aquilo a que nos damos ao luxo de chamar animais inferiores: consideram a evolução como um fluxo relativamente ininterrupto do processo biológico, e têm tendência a olhar para o homem apenas como uma das mais interessantes formas em que a vida se manifesta, tal como fazem com os dinossauros, com os ratos brancos e com os golfinhos. O que lhes prende a atenção é a continuidade, a unidade de todo o mundo orgânico, a generalidade incondicional dos princípios sob os quais ele próprio se forma. No entanto, se bem que os estudiosos das ciências sociais — psicólogos, sociólogos, especialistas em ciências políticas — não neguem a natureza animal do homem, revelaram a tendência de o considerar único no seu gênero, diferente, como às vezes eles mesmos dizem, não só de «grau», mas também de «qualidade». O homem é um animal que consegue fabricar ferramentas, falar e criar símbolos. Só ele ri; só ele sabe que um dia morrerá; só ele tem aversão a copular com a sua mãe ou a sua irmã.; só ele consegue imaginar outros mundos em que habitar, chamados religiões por Santayana, ou fabricar peças de barro mentais a que Cyril Connolly chamou arte. Considera-se que o homem possui, não só inteligência, como também consciência; não só tem necessidades, como