Estudante
“Aprouve-nos, durante muito tempo, mencionar línguas a que faltam termos para exprimir conceitos, tais como os de árvore ou animal, se bem que elas possuam todas as palavras necessárias a um inventário minucioso de espécies e de variedades. Mas, invocando esses casos em favor de uma suposta inaptidão dos ‘primitivos’ ao pensamento abstrato, omitíamos, então, outros exemplos, que atestam que a riqueza em palavras abstratas não é só apanágio das línguas civilizadas.” (Lévi-Strauss, p.19)
Com essa introdução o autor aponta para o caráter “tendencioso” de nossas análises das chamadas “sociedades primitivas”. Nos parágrafos seguintes ele mostra que, em primeiro lugar, há nessas mesmas sociedades, como no caso do chinuque, experiências da linguagem que se utilizam “palavras abstratas para designar muitas propriedades ou qualidades das coisas [numa frequência] maior do que em todas as outras [línguas]”.
A seguir, tomando a ideia de que esses “primitivos” dão nome apenas “às espécies e animais úteis ou nocivos”, mostrará que também essa atitude, que, aliás, pode ser comparada à abordagem de um especialista (em relação aos fenômenos que não dizem respeito, imediatamente, a seu campo de atuação), não implica numa inferioridade em relação às sociedades ditas “históricas”. Aos poucos o que se vai revelando, ao contrário das supostas diferenças, são as semelhanças no modo de operar de uma ciência do concreto e uma ciência abstrata.
E “não se trata de dar a razão do primitivo ou de lhe dar razão contra nós, e sim de instalar-se num terreno onde sejamos, uns e outros, inteligíveis, sem redução nem transposição temerária. Este espaço comum emerge quando se vê na função simbólica a fonte de toda razão e irrazão, porque o número e a riqueza das significações de que o homem dispõe sempre excedem o círculo de objetos definidos que mereçam o nome de significados, porque a função simbólica deve sempre estar em avanço com