estrela da vida inteira
A posição entre uma natureza apaixonada que aspirava a plenitude, e o exílio em que a doença o obrigara a viver, marcaram profundamente a sua sensibilidade, traduzindo-se, no plano estrutural, pelo gosto das antíteses, dos paradoxos, nos contrastes violentos; no plano emocional, por um movimento polar, uma oscilação constante que, no decorrer da obra, vai alternar a atitude de serenidade melancólica e o sentimento de revolta impotente.
[Gilda e Antonio Cândido de Mello e Souza - Introdução in Estrela da vida inteira]
Pasárgada: a poesia das coisas mais simples
Quando Manuel Bandeira morreu, em outubro de 1968, um jornal dedicou-lhe a manchete Bandeira, enfim, Pasárgada! em referência ao seu mais conhecido poema - Vou-me embora pra Pasárgada. Neste poema o poeta evoca a vida que poderia ter sido e que não foi, uma espécie de paraíso pessoal, lugar de sonhos e de desejos, em que ele poderia realizar as felicidades mais simples, como andar em burro bravo, subir em pau-de-sebo, andar de bicicleta, tomar banho de mar...
A enumeração, neste lugar ideal, de fantasias tão simples e despojadas já revela um dado biográfico que se transformará em fonte de muitos temas da poesia de Bandeira: a presença da morte, anunciada em plena adolescência, sob a forma de uma tuberculose, doença mortal na época [início do século XX]. [...] fui vivendo, morre-não-morre, e, em 1914, o doutor Bodner, médico-chefe do Sanatório de Clavadel, tentando-lhe eu perguntado quantos anos me restariam de vida, me respondeu assim: o senhor tem lesões teoricamente incompatíveis com a vida: no entanto, está sem bacilos, come bem, dorme bem, não apresenta em suma nenhuma sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos... Quem poderá dizer? Continuei esperando a morte para qualquer momento, vivendo sempre como que provisoriamente. [Manuel Bandeira - Itinerário de Pasárgada]
A permanente consciência da morte, a luta contra ela, a convivência com sua presença -