Estereótipo mineiro: trem e uai
Fernanda Lellis Fernandes
FALE/UFMG
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetos de estudo a palavra trem e a interjeição uai. Busca-se identificar se esses termos são estigmatizados ou se o uso dos mesmos é categórico entre os falantes do dialeto mineiro. Para responder a esse questionamento foi analisada uma amostra de indivíduos falantes do dialeto mineiro moradores da capital do estado, Belo Horizonte, e cidades do interior da região central de Minas Gerais.
PALAVRAS-CHAVE
Variação linguística, dialeto mineiro, interjeição uai, palavra trem e estereótipo.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O objetivo deste estudo é investigar o uso da palavra trem e da interjeição uai na fala dos mineiros, termos constituintes do estereótipo do dialeto mineiro. Para AMOSSY (2005), a estereotipagem “é a operação que consiste em pensar o real por meio de uma representação cultural preexistente, um esquema coletivo cristalizado”. Muitas vezes o estereótipo pode ser mais otimista que pessimista, refletindo assim certa hostilidade, como acontece com uso da palavra trem e da interjeição uai, que frequentemente estão relacionadas ao dialeto caipira.
Segundo Jânia Martins Ramos, em “O surgimento de um nome geral: a lexia ‘trem’ no dialeto mineiro”, BLUTEAU (1721) no mais antigo dicionário de língua portuguesa, diz que a palavra trem deriva do latim “trabere”, verbo que significa: tirar ou puxar alguma coisa, arrastar. De acordo com Jânia, a palavra trem chegou ao século XVII através de um sermão de Padre Antônio Vieira, quando o mesmo usou a construção “trem do príncipe” para designar um agrupamento de pessoas, que munidas de mantimentos e bagagens acompanhavam outras pessoas em jornadas longas. Com o passar do tempo a palavra trem passou a significar objetos levados em viagens, bagagens, ou ainda, conjuntos de peças de roupas. Assim, segundo a autora, o uso de trem no dialeto mineiro, hoje se referindo a conjunto