estamira
Estamira teve Carolina e um menino que nasceu morto. As duas separações aconteceram pelo mesmo motivo: casos extra-conjugais de seus parceiros. Carolina narra o episódio da segunda separação falando que os dois, marido e mulher, “puxaram faca” um para o outro.
Depois de expulsa da casa do italiano, Estamira foi para o Jardim Gramacho e, segundo
Carolina, passou cinco anos trabalhando lá até ser convencida pelos filhos a buscar um emprego. Um dia, voltando pra casa, Estamira foi estuprada. Até então, ainda de acordo com
Carolina, Estamira não sofria de distúrbios mentais. Foi depois de um segundo estupro, que ela começou a falar que estava sendo perseguida e a divagar sobre o “poder real”.
As imagens da casa de Estamira e do seu trabalho são desoladoras, mas as falas dela são assertivas. Ela parece ser uma mulher segura, confiante, que vive de acordo com suas escolhas. Sobre sua casa, por exemplo, Estamira fala: “Graças a Deus tenho meu barraco. Eu tenho raiva de quem acha que isso é ruim. Saio daqui e tenho onde descansar”. Já em relação ao trabalho, Estamira diz: “Tem 20 anos que eu trabalho aqui. Eu adoro isso aqui. A coisa que eu mais adoro é trabalhar” (ESTAMIRA, 2005).
Mas essa última fala não condiz com as imagens e os sons do Jardim Gramacho. O que se vê
–montanhas de lixo; chorume borbulhante; fogos que brotam espontaneamente do chão – e o que se ouve – roncos de caminhão de lixo; ventanias; trovoadas – parecem antes o retrato do inferno do que um local bom de se trabalhar. A esse paradoxo, Estamira se antecipa e responde: “foi combinado alimentar o corpo com o suor do