Essencial da didatica do professor
DO MILÉNIO
MIGUEL BAPTISTA PEREIRA
O fenómeno histórico da secularização, que nas suas raízes não é um movimento anti-cristão mas uma libertação enraízada no próprio torrão bíblico, é uma «jóia da coroa» do milénio lapidada pela
Modernidade mediante golpes críticos na Metafísica, que lhe impuseram um novo oriente de sentido em que os não-platónicos e os não-
-aristotélicos também pudessem caminhar e pensar. Nesta evocação de caminhos do milénio, vamos seleccionar a crítica à Metafísica Clássica movida pelo Nominalismo de W. Ockham, cujo papel no nascimento do homem moderno é relevante, contra o que defendeu o recentemente falecido filósofo alemão H. Blumenberg (1920-1996), e a contribuição de dois filósofos de Coimbra-Pedro da Fonseca (1528-1599) e Francisco
Suárez (1548-1617) - para a formação da «razão pura», que no séc. XVIII I. Kant submeteu a uma crítica acerada. Encadeados pelas novidades epocais, facilmente olvidamos o que no leito histórico profundo subliminarmente avançou como promessa de futuro. Por isso, quando hoje se diz da Modernidade que ela foi uma ruptura inaugural, isto não significa que o fugor primeiro das suas luzes se não tivesse acendido na Idade Média, que longe de ser «noite gótica» e «túnel de dez séculos» também preparou a razão moderna com seus mestres e autoridades, abriu espaços para camponeses e citadinos ao lado das reservas do clero, do monacato e da nobreza, usou livros de arquitectura na construção de catedrais, traçou o calendário lendo Astronomia, preferiu desde o séc. XII os médicos árabes aos físicos saídos das antigas escolas conventuais e recebeu do legado antigo e da especulação árabe o conceito de ciência usado na Teologia. A luz da razão na Idade
Média irradiou de focos potentes como Maimónides, Averróis, Abelardo,
Alberto Magno, Tomás de Aquino, etc., de disciplinas médicas e lógicas
Revista Filosófica de Coimbra - rc" 15 (/999) pp. 3-63
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