Espiritualidade_e_relacao_mente_cerebro_Atheneu_cap
6673 palavras
27 páginas
Algumas Reflexões sobre as Implicações das Experiências Espirituais para aRelação Mente-Corpo
Alexander Moreira-Almeida
In: Franklin Santana Santos. (Org.). Cuidados Paliativos - Discutindo a vida, a morte o morrer. São Paulo: Atheneu, 2009, p. 283-300.
1. Introdução
Dada a complexidade e a natureza controversa dos dois tópicos que compõem o título deste capítulo, o objetivo deste texto é apresentar alguns argumentos gerais, fornecer materiais para reflexão sobre as implicações das experiências espirituais (EE) para a relação mente-corpo (RMC). De início, é enfatizado que apenas será apresentado algum material para reflexão, sem ter condições, devido às limitações de espaço, de fazer uma análise mais detalhada.
Para os interessados numa leitura mais aprofundada, serão fornecidas ao longo do texto algumas referências básicas que permitem acesso a estudos e argumentações mais elaboradas e detalhadas.
As tradições espirituais e religiosas habitualmente trabalham com um esquema de RMC bastante diferente daquele habitualmente aceito no ambiente acadêmico. No meio científico, frequentemente se trabalha com alguma forma do monismo materialista, no qual a consciência e a personalidade humana são tidas como produtos do funcionamento cerebral em sua interação com o ambiente. Nessa formulação, a consciência ou a personalidade, por serem consideradas produtos da atividade cerebral, desapareceriam com a morte e a consequente destruição do cérebro. Então, não haveria mais vestígios de funcionamento de uma dada personalidade após a destruição de seu corpo físico (KELLY et al., 2007). Por outro lado, grande parte, provavelmente a maioria, das tradições religiosas e espirituais trabalha com a ideia de uma parte imaterial do ser humano que habitualmente sobrevive à morte do corpo. Essa parte imortal do ser humano, que persiste, é normalmente parte central das tradições e do conceito de espiritualidade comumente aceito pelas pessoas (HUFFORD, s/d). A questão da morte e da