Espirito das Leis
Teoria das leis feudais entre os francos em sua relação com o estabelecimento da monarquia
CAPÍTULO I
Das leis feudais
Acreditaria eu que há uma imperfeição em minha obra se passasse em silêncio um acontecimento ocorrido uma vez no mundo e que talvez não mais ocorrerá; se eu não falasse destas leis que vimos aparecer num instante em toda a Europa, sem que tivessem relação com aquelas que havíamos conhecido até então; destas leis que produziram bens e males infinitos; que deixaram direitos quando cederam o domínio; que, dando a várias pessoas diversos gêneros de senhorio sobre a mesma coisa ou sobre as mesmas pessoas, diminuíram o peso do senhorio inteiro; que colocaram diversos limites em impérios extensos demais; que produziram a regra com uma inclinação para a anarquia, e a anarquia com uma tendência para a ordem e a harmonia.
Isto exigiria uma obra especial; mas, dada a natureza desta, encontraremos aqui mais estas leis como as encarei do que como delas tratei.
É um belo espetáculo o das leis feudais. Um carvalho antigo eleva-se; o olho vê de longe suas folhagens; aproxima-se, enxerga o caule, mas não percebe suas raízes: é preciso cavar a terra para encontrá-las.
CAPÍTULO II
Das fontes das leis feudais
Os povos que conquistaram o império romano tinharn saído da Germânia. Ainda que poucos autores antigos tenham descrito para nós seus costumes, conhecemos dois deles que têm um grande peso. César, quando fazia a guerra contra os germanos, descreve os costumes deles; e foi sobre estes costumes que pautou algumas de suas empresas. Algumas páginas de César sobre esta matéria são volumes.
Tácito escreveu um livro especial sobre os costumes dos germanos. É curto, este livro, mas é um livro de Tácito, que resumia tudo porque via tudo.
Estes dois autores encontraram-se em tal acordo com os códigos das leis dos povos bárbaros que possuímos, que, lendo César e Tácito, encontramos por toda parte estes
file:////Lenin/Rede