ESPELHO
Machado de Assis em seu conto “O Espelho”, esboça uma teoria sobre as duas almas humanas: a interior e a exterior. No texto, Jacobina, personagem principal, relata a seus amigos um episódio de quando esse tinha 25 anos e havia acabado de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. A partir desse momento, Jacobina perdeu sua alma interior para a exterior: todos a sua volta só o olhavam e o tratavam como alferes e nada mais que isso; toda a existência de Jacobina passou a ser voltada a seu posto militar. Em uma semana, quando sua tia teve de se ausentar e junto a isso, os escravos fugiram, Jacobina viu-se sozinho em um casarão, apenas com o presente que havia ganhado de sua tia (um enorme espelho herdado da época da Família Real no Brasil) e sem a validação da sua alma exterior: todos aqueles que não esqueciam de afirmar a identidade de Jacobina haviam ido embora, o que causou a perda da alma exterior do personagem, que não conseguia olhar pra si próprio dessa maneira. Esse passou diversos dias vagando pelo casarão, esperando que as pessoas voltassem e que com eles, voltasse também, sua alma exterior.
Entretanto, ao deparar-se com sua imagem naquele grandioso espelho, Jacobina aterrorizou-se. Na imagem refletida, segundo os padrões físicos e metafísicos, viu-se como figura “vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra”; ou seja, na imagem do verdadeiro eu de Jacobina, esse não se reconhecia. Apenas quando teve a ideia de se ver como todos a sua volta o reconheciam, foi que Jacobina reencontrou sua alma exterior: colocou sua farda de alferes e passou diversas horas dos demais dias que se passou admirando sua imagem exterior no espelho.