Espelho: o que vejo não é o que vejo
‘’Há uma questão que há muito tempo me incomoda: qual diferença haverá entre o dromedário e o camelo, e entre o camelo e o dromedário?”
Eis a letra de uma música da banda Titãs que, estranhamente, serve de paralelo para discorrer sobre como nos vemos (como brasileiros) e como somos vistos pelos estrangeiros. A conclusão pode ser simples: ponto de vista. Mas vale a pena ir ao fundo da questão.
No início de tudo, quando fomos descobertos acidentalmente – Cabral deveria chegar às Índias, mas acabou por encontrar os índios -, fomos vistos pelo colonizador europeu como bárbaros que andavam nus e comiam gente. Éramos o paraíso tropical, de natureza exuberante, habitado por selvagens. Essa visão vem daqueles que se intitulavam superiores por serem civilizados – vestiam roupas, tinham modos e não comiam uns aos outros - pelo menos não à mesa. Fomos menosprezados por sermos selvagens e promíscuos; e, justamente por esses motivos, fomos subjugados e escravizados.
Podemos nos rebelar ainda hoje com essa visão concebida e difundida de quem fomos e somos, já que ela foi carregada pelo tempo e pelo mundo sem termos a chance de produzir uma melhor. De fato, somos um povo com uma identidade em construção, haja vista a miscigenação de tantas raças que se juntaram a nós. Da colonização até agora, são 514 anos de cultura branca. Perdemos nossa identidade nativa em tão pouco tempo, e também o tempo foi pouco para construir uma identidade branca. Somos ainda como uma massa disforme, mas com uma característica que, infelizmente, nos permitiu aceitar (mais uma vez) essa condição: a submissão.
Pergunte a um estrangeiro o que vem a sua mente quando se fala de Brasil. A resposta não será muito diferente desta: futebol, carnaval, praia, samba e mulheres nuas. E ainda há aqueles que pensam que o Brasil é uma imensa floresta, atravessada pelo Rio Amazonas, por mais inconcebível que isso possa soar. Um país abundante em água, verde, índios,