Escalada das commodities agrícolas
Décio Luiz Gazzoni
Os leitores que me perdoem voltar a discutir o sofisma do conflito entre a produção de biocombustíveis e de outros produtos agrícolas. Desde 2004, dedico-me a prospectar os impactos da agricultura de energia sobre a oferta, demanda e preços da agricultura mundial.
Pertencer ao Painel Científico Internacional de Energia Renovável, sem dúvida, abriu-me muitas portas e me permite um ponto de observação isento e distanciado. Como a história completa é comprida, vou começar pelas conclusões para depois demonstrar cada um dos pontos.
Com exceção do etanol de milho dos EUA e de trigo da UE e do biodiesel de canola da UE, os biocombustíveis não têm quase nada a ver com aumento de preços de produtos agrícolas no mundo. Procure os culpados (!) na inclusão social na Ásia e na África, nos subsídios agrícolas do
Primeiro Mundo, na desvalorização do dólar em escala global, no aumento estratosférico do custo dos fretes, na especulação financeira que está deslocando a liquidez para commodities
(não só agrícolas) e no aumento de custo dos insumos agrícolas - que são causas estruturais - e no clima adverso que frustrou algumas safras de cereais no ano passado. Neste contexto, os biocombustíveis exercem um papel terciário e marginal no aumento de preços de commodities agrícolas. Este impacto, mesmo pequeno, deve-se – repito – exclusivamente ao etanol de milho americano, ao biodiesel de canola e ao etanol de trigo na Europa. Ponto final.
1. Os fatos do Primeiro Mundo
As declarações contra a agroenergia (o presidente do FMI, do BIRD, da França, da Nestlé, o
Primeiro Ministro da Inglaterra, o Comissário para Agricultura da UE e outras lideranças do
Primeiro Mundo) fazem parte de um claro jogo de interesses. Ninguém é inocente, e todos sabemos que algumas dezenas de bilhões de dólares, a permanência no cargo, a liderança geopolítica e a votação na próxima eleição depende do que o