Erotomania
Transferir é uma capacidade humana por excelência, presente não somente na relação analítica, mas em inúmeras outras situações de interação social. Contudo, sua expressão torna-se mais vívida e, portanto, evidente, no seio da situação analítica, devido à própria maneira como esta é montada. Esta questão foi discutida, embora não exaustivamente, por Freud. Em A Dinâmica da Transferência, Freud (1912, p. 133) propõe-se a "explicar como a transferência é necessariamente ocasionada durante o tratamento psicanalítico". E, páginas adiante (Freud, 1912, p. 135), confessa não compreender "porque a transferência é tão mais intensa nos indivíduos neuróticos em análise do que em outras pessoas desse tipo que não estão sendo analisadas". Em seguida, com uma frase que parece fechar um raciocínio, Freud (1912, p. 136) concluiu que as "características da transferência, portanto, não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim à própria neurose".
"... após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós. Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos colocado em termos racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como sefora uma soma aritmética; não obstante, a despeito de tudo isso, algo parece infiltrar-se furtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. Essa novidade inesperada assume muitas formas (...) Constatamos, pois, que o paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do médico." (1916-1917 a, p.512)
Quando o paciente passa a se interessar por tudo o que se relaciona com a figura do médico, atribuindo a isso por vezes maior importância do que a que demonstra por suas próprias questões, parece se desviar de sua própria doença. Estamos, então, diante de uma relação