epidemiologia
Este artigo trata da emergência da epidemiologia social concomitantemente ao surgimento da epidemiologia como disciplina científica, destacando as condições teóricas e epistemológicas desse aparecimento. Em seguida são enfocadas as razões para o declínio dessa abordagem, assim como para seu ressurgimento na década de 60, no século XX. São apresentadas as diferentes correntes teóricas atualmente vigentes na epidemiologia social, destacando as características gerais e as limitações de cada uma delas. Especial atenção é dada às seguintes formulações: a eco-epidemiologia proposta por Mervin Susser, a teoria do capital social, a perspectiva do curso de vida, a teoria da produção social da doença e a teoria ecosocial elaborada por Nancy Krieger. O panorama traçado pretende demonstrar a vitalidade dessa abordagem, bem como indicar a diversidade de aspectos em seu interior. Para finalizar são apontados alguns dilemas e desafios.
Palavras-chave: Epidemiologia social. Abordagens teóricas. Teoria epidemiológica.
Por que Epidemiologia Social?
O comentário mais habitual ao se falar de epidemiologia social é a indagação se toda epidemiologia não é social. Afinal, por definição, os fenômenos estudados pela epidemiologia pertencem ao âmbito coletivo e, portanto, devem remeter ao social. Faz sentido pensar em algum processo biológico que seja independente do contexto social? É possível pensar o indivíduo isolado, desenraizado da sociedade em que vive?
A despeito dessas considerações, nem toda epidemiologia é social. A epidemiologia social se distingue pela insistência em investigar explicitamente os determinantes sociais do processo saúde-doença1. O que distingue a epidemiologia social das outras abordagens epidemiológicas não é a consideração de aspectos sociais, pois, bem ou mal, todas reconhecem a importância desses aspectos, mas a explicação do processo saúde-doença. Trata-se portanto de uma distinção no plano teórico.
Nas duas últimas décadas do século XX