Epicuros e Estóicos
Carpe diem (aproveite o momento que passa): este verso do poeta latino Horácio, um admirador entusiasta de Epicuro, se tornou proverbial, pois sintetiza uma doutrina que coloca na busca do prazer a finalidade de qualquer atividade dos seres vivos. O homem estuda e trabalha para adquirir posição social e dinheiro, de que se serve para satisfazer, da melhor forma possível, seus dois instintos básicos: a conservação própria, pela alimentação, e da sua espécie, pelo acoplamento sexual. Sábio, porém, é quem usa o prazer de uma forma ponderada, pois qualquer excesso é prejudicial: se comer menos do que precisa, pode sofrer por inédia ou anorexia, se comer mais, estará sujeito aos males causados pela obesidade. Portanto, in médio stat virtus (a virtude está no meio-termo), citando outro verso do epicurista Horácio.
As poucas notícias sobre o filósofo grego Epicuro, considerado, como Sócrates, um “mestre” de vida, nos foram transmitidas por discípulos e admiradores. Sabemos que lecionou em várias cidades da Grécia, em Atenas inclusive, pregando o Atomismo de Demócrito, com uma postura materialista. Mas ele passou à posterioridade pela sua doutrina moral, fundamentada no Hedonismo (do grego hedone = prazer), que prega o equilíbrio entre os prazeres possíveis. Epicuro foi o primeiro pensador ocidental a negar claramente a possibilidade da existência de uma “providência transcendental”, de um Deus preocupado com suas criaturas. Num fragmento de seus escritos, lemos:
“Ou Deus pode e não quer evitar o mal: então não é bom; ou quer mas não pode: então não é onipotente.
Em cada qual das duas hipóteses: ele não existe!”
A contradição da existência do mal, junto com a crença na bondade divina, inquietou não apenas Epicuro, mas também muitos sábios posteriores que procuraram encontrar uma explicação racional. Santo Agostinho tentou resolver o dilema pela teoria do livre arbítrio: Deus deu ao homem a liberdade de fazer o mal e,