Entre a biopolítica contemporânea e a biopotência do desenvolvimento comunitário autogestionário – fios de desafios da aliança solidária da leopoldina e adjacências

45059 palavras 181 páginas
1 INTRODUÇÃO

Eis que começo a escrever este texto, o qual pretende ser uma narrativa da história recente de constituição de um movimento em rede formado por grupos populares que residem em comunidades empobrecidas pelo jogo da política do capitalismo neoliberal. A dissertação pretende ser a história dessas pessoas que têm procurado não aderir, pelo menos totalmente, aos “pacotes” de subjetividade; ou seja, a modos de ser, pensar, agir, sentir, trabalhar e viver veiculados pelas máquinas midiáticas, jornais, telejornais, rádios, telenovelas, comerciais, programas de auditório, mas igualmente escolas, serviços de saúde e assistência e disciplinas científicas instituídas. Alternativamente, buscam afirmar outros modos de viver e de conduzir a vida, modos singulares e legítimos. Trata-se de uma gente que tem utilizado a integralidade do seu ser em seus platôs cognitivo, metacognitivo, afetivo, comportamental e vital para dar vazão à potência criativa, à força-invenção, à força-intelecto (PÉLBART, 2003, p. 10), para resistir minimamente, nas ondulações do cotidiano, à tecnologia de poder que incide sobre os corpos individuais tentando adestrá-los, normalizá-los, regular sua conduta, organizá-los no espaço da forma prescrita em uma norma, serializá-los e eventualmente, puni-los, bem como à tecnologia de poder que incide sobre o corpo coletivo através de ações e projetos de controle e normalização das várias dimensões da vida da população (natalidade, mortalidade, endemias, segurança, meio-ambiente,...) (FOUCAULT, 2000. p. 286 – 293).
Escrevo, pois, sobre a trajetória de organização de pessoas que vêm exercendo, a partir de suas forças vitais inventivas, possibilidades singulares de viver, pensar, sentir, agir, trabalhar e relacionar-se, através de um trabalho em rede que visa a compreender como essas tecnologias de poder vêm ganhando consistência em nosso cotidiano, a fim de criar outros caminhos de afirmação da vida através de uma proposta de desenvolvimento

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