Entre Próspero e Caliban
Nesse texto, Boaventura de Sousa Santos disserta acerca dos processos identitários, no espaço-tempo da língua portuguesa, que envolvem Portugal e povos americanos, africanos e asiáticos. O autor principia por apontar a condição histórica em que Portugal se manteve desde o século XVII e por indicar como isso se refletiu na sua atual posição em relação à União Europeia:
Comparando o colonialismo português ao colonialismo britânico (uma vez que esse pode ser considerado o modelo padrão de colonialismo), considera-se que o primeiro apresentou um desequilíbrio entre o excesso de colonialismo e o déficit de capitalismo, quando a norma seria o equilíbrio entre os dois sistemas. Além desse desequilíbrio, não se pode esquecer do fato de que foi a Inglaterra, de fato, que definiu as bases do colonialismo português. Resulta daí que o colonizado vai se deparar com um duplo problema de auto-representação, tanto em relação ao próprio Portugal, como em relação ao seu colonizador último, a Inglaterra. O autor parte do pressuposto de que as diferenças no colonialismo português – em relação ao mesmo sistema anglo-saxão – se refletirão nas diferenças do pós-colonialismo luso em relação ao inglês. Se as ex-colônias da Inglaterra passam a ocupar uma posição extremamente oposta aos seus colonizadores, as ex-colônias portuguesas acabam por ocupar um lugar intermediário, “entre Próspero e Caliban”, não estabelecendo nenhuma oposição definitiva; a hibridização das raças, se é que este termo deve ainda ser utilizado, é outro fator distintivo, assim, como o fato de o colonizador ter em si uma identidade dupla, a do colonizador e a do colonizado – enquanto colonizado pela Inglaterra. Isso explica, por exemplo, a natureza mais “emigrante”, que colonizadora do português. Tais pressupostos não implicarão uma maior identificação do colonizador com o