Ensino x treinamento
Autor: Neil Postman
A leitura cria uma separação entre aqueles que podem e que os que não podem ler. A leitura é o flagelo da infância uma vez que cria também a idade adulta, pois ser adulto implica ter acesso aos segredos culturais codificados em símbolos. Podemos dizer que no mundo medieval não havia nenhuma idéia de desenvolvimento infantil, nenhuma concepção de pré-requisitos de aprendizagem seqüencial, assim como nenhuma concepção de escolarização como forma de preparação para o mundo adulto. A criança da Idade Média vivia na mesma esfera social dos adultos, pois tinha acesso à quase todos os comportamentos comuns à cultura. Não havia, em separado, o mundo da infância. No mundo medieval, a criança era invisível. A partir do surgimento da imprensa e da alfabetização socializada, um novo ambiente comunicacional ganhou forma, e foi quando a imprensa criou uma nova definição de idade adulta, baseada na capacidade de ler, e de infância, baseada na incompetência de leitura. A partir do advento da tipografia, que criou um novo universo simbólico, as crianças foram expulsas do mundo dos adultos, sendo necessária a criação de um novo mundo para elas habitarem; e este mundo veio a ser chamado de 'infância'. Com o livro impresso, iniciou-se outra “tradição”, como o isolamento do leitor e o narcisismo do escritor, o que levou ao sentimento individualista. E esse sentimento exacerbado do eu, foi, segundo o autor, a semente que levou, por fim, ao florescimento da infância. Mas, é óbvio que o individualismo sozinho não inventou a infância, como a lacuna de conhecimento o fez. Formou-se uma divisão explícita entre aqueles que sabiam ler e aqueles que não sabiam. A mídia impressa acarretou modificações de outra ordem: a forma do livro impresso instituiu um novo modo de organizar o conteúdo e, conseqüentemente, o pensamento. Quando o homem letrado foi “criado”, as crianças foram deixadas para trás. O