Ensaio - o triste fim de policarpo quaresma
A música é o barulho que pensa. Hugo, Victor
A CULTURA POPULAR DO BRASIL NA VIRADA DOS
SÉCULOS XIX E XX. (RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS)
As pessoas que ganharam vida e voz na obra de Lima Barreto pertenciam ao “mar de analfabetos”, ao qual o poeta elitista Olavo Bilac – parnasiano e patrioteiro, embora de certa popularidade, e até hoje autor escola – se refere com desprezo. Não é a toa que o cantor popular de Lima Barreto, com o nome eloquente de Ricardo Coração dos Outros, critica Bilac, acusando-o de não entender nada de sentimental e popular da modinha. (ZILLY: 2003, 56-58).
No romance “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, o romancista mais importante do período conhecido como pré-modernismo, Ricardo Coração dos Outros, o professor de violão do major Policarpo, representa fielmente a cultura popular brasileira da época. O objetivo deste ensaio, é evidenciar as características que permitem observar a relação deste personagem com este quadro cultural da virada dos séculos XIX e XX. Um sinal a respeito dessa relação ocorre logo na primeira aparição de Ricardo Coração dos Outros ao leitor: “era visto entrar em sua casa, três vezes por semana e em dias certos, um senhor baixo, magro, pálido com um violão agasalhado numa bolsa de camurça. Logo pela primeira vez o caso se intrigou a vizinhança. Um violão em casa tão respeitável! Que seria?” (T,2). A partir desse momento, tornaram-se claras as impressões contidas pela sociedade sobre o rapaz; já que neste período tocar violão era uma tremenda malandragem.
Acabava de entrar em casa do Major Quaresma o Senhor Ricardo Coração dos Outros, homem célebre pela sua habilidade em cantar modinhas e tocar violão.(T,8)
Ricardo era um seresteiro de subúrbio, que representa a paixão pela cidade, os bairros distantes, as serenatas e os violões