ensaio Surrealismo no Brasil
De início, devemos observar que o significado do surrealismo tem se modificado desde que o poeta e escritor francês André Breton (1896-1966) escreveu o Primeiro Manifesto Surrealista, há quase 90 anos. Sua definição de “automatismo psíquico puro pelo qual se pretende exprimir, quer verbalmente, quer por escrito, quer de outra maneira qualquer, o funcionamento real do pensamento (...)” foi ganhando interpretações diferentes e, hoje em dia, designa algo diferente, absurdo, exótico, irregular.
No Brasil, até os anos 60, o surrealismo não havia chegado a se configurar como um movimento na literatura ou nas artes em geral. "Antes disto, o que tivemos, foram casos isolados, como a poesia de Jorge de Lima, Murilo Mendes, Manoel de Barros e, principalmente, a prosa de Campos de Carvalho", disse o escritor Claudio Willer.
Ao nos depararmos com a figura de Walter Campos de Carvalho, que teve todas suas obras produzidas entre 1956 e 1964, encontramos uma representação grandiosa do Surrealismo brasileiro. Campos de Carvalho se dizia irmão de Lautréamont, e, não por acaso, sua obra e suas ideias têm muito de Isidoro Ducasse. Seu último livro, O púcaro búlgaro, compõe uma viagem onírica a lugar nenhum, assim como a viagem de Maldoror da obra do Conde de Lautréamont. Campos de Carvalho seduz o leitor com sua leveza e naturalidade em uma delirante narrativa. Sua escrita era feita de forma espontânea (O púcaro búlgaro teria sido escrito em 24 dias), com o rigor de não se refazer nenhum texto. Por isso, Campos deixou-nos uma prosa fluente, mesmo com tamanha descontinuidade.
O destino de sua obra é exemplo da deficiência literária existente e persistente no Brasil. Diversos autores brasileiros têm sido renegados injustamente, amaldiçoados no esquecimento, como explica Nelson de Oliveira, em seu artigo (2000). Nesse mesmo artigo, Campos de Carvalho é citado como membro de uma família de verdadeiros malditos, da qual também fariam parte