Ensaio sobre o Filme Em Busca da Terra do Nunca

Ensaio sobre o filme Em Busca da Terra do Nunca
Um elogio às histórias e sua função narrativa e simbólica

Tatiana Guimarães Jacques

O filme de Marc Forster é delicado e preciso. Me deparo com ele com a expectativa de encontrar um bom filme sobre a infância, mas ele vai muito além disso, para minha grata surpresa. O cotidiano clínico imerso na psicanálise me fez pensar em discuti-lo em comemoração ao dia do psicólogo na universidade em que trabalho. Os efeitos e desdobramentos dessa discussão, compartilho aqui com vocês. A escolha deste filme certamente não foi ao acaso. A possibilidade de pensar o lugar do analista na operação de construção referida por Freud, no texto Construções em Análise de 1937,é revelada de forma muito especial na realação que se estabelece entre o escritor e as crianças, e particularmente, na relação dele com Peter. Como nos diz Freud, 1937 “trata-se de uma construção quando se põe perante o sujeito da análise um fragmento de sua história primitiva, que ele esqueceu”(p.279). Quantos diálogos de James Barrie e Peter são elucidativos desta questão. O que é profícuo de observar é que o movimento ocorre nas duas direções: tanto Peter vai elaborando suas questões a partir das construções de Mr. Barrie, quanto o próprio elabora e resignifica a sua infância no percurso do “trabalho” com Peter e seus irmãos, e com a escritura da peça. Para Barrie “Meninos pequenos não deveriam ir para cama nunca. Quando acordam, então um dia mais velhos, e, antes que você se de conta do que aconteceu, já viraram gente grande”. Para ele a escrita ocupa a função de uma operação narrativa, que de alguma forma vai sendo transmitida a Peter. Essa função permite aos sujeitos elaborar suas próprias histórias, mas é interessante o ponto de virada que se marca para o escritor em relação a esta função, a partir do seu encontro com Peter que lhe diz convicto que “é só um cachorro!”, e não o urso que a imaginação de Barrie começa a constuir! A história da peça