ensaio sobre a cegueira
Dirigido por: Fernando Meirelles
''Uma inexplicável epidemia de cegueira atinge uma cidade. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar, as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação, a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico, que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.''
José Saramago teve seu livro adaptado para um filme, em que a tensão, o desespero e o regresso vêm a tona. A cegueira física dos personagens foi uma das escolhas possíveis (podia ser a surdez, a paralisia, etc) para ilustrar um procedimento social que nunca deixou de existir, que é a de rotular grupos (um exemplo é dos judeus durante o poder nazista). E não faltam exemplos atuais sobre pessoas que tiveram o azar de possuir certas características usadas pelo grupo dominante para justificar seu ódio. ''Odeia-se'' o vizinho para não se perceber o desabamento do telhado da própria casa. O filme investe sobre o tema da opressão humana e da violência que surge dentro dos próprios grupos desprivilegiados. Os cegos, isolados do restante da sociedade, logo abandonam sua civilização e deixam fluir o que tem de mais selvagem e egoísta. Na verdade, entendi isso como não muito diferente do que havia antes, apenas tornou-se mais visível digamos (de certo modo, mais autêntico até). Também chamou a minha atenção o tratamento que a história dá às mulheres, mostradas como pessoas que, apesar de estarem "no mesmo barco que os homens", se mantiveram num patamar "mais civilizado". Não é à toa talvez que a única pessoa entre os cegos que enxergava era a personagem da Julianne Moore. Há cenas que ilustram o que o ser humano muitas vezes não hesitaria em fazer numa situação-limite, como o estupro coletivo. O filme mal deixa o espectador respirar pois logo inunda o cenário com imagens