Ensaio sobre a Cegueira

Ensaio sobre a Cegueira
Ensaio sobre a cegueira de Fernando Meirelles é sem sombra de dúvida um murro no estômago. Quem leu ou conhece o livro de José Saramago já está à espera que isso aconteça se confiar em adaptações cinematográficas, quem não confiar vai ser surpreendido.
Vamos por partes e sigamos o filme como alegres desconhecedores da obra literária, sigamos o filme como alegres desconhecedores inclusive da obra de Meirelles. Vamos por partes…
Quando começa, algo se passa com a nossa visão porque as letras da ficha técnica estremecem e esmorecem e não vemos nitidamente, mas sabemos que o filme é um ensaio sobre a cegueira portanto parabéns a quem fez o grafismo inicial. Conforto, curiosidade, somos demasiado cinéfilos para questionar limitando-nos a congratularmo-nos por nos lembrarmos dessa associação.
Começam as imagens, somos automaticamente levados para uma paisagem urbano depressiva repleta de carros com ruas imensas e cores que nos lembram as manhãs de Inverno em que sabemos que vai chover, ou vai ter inicio uma trovoada e não nos apetece sair de casa. Conforto, estamos numa sala de cinema e não temos de ir para aquelas ruas nem ser inundados por aquelas cores.
Carros, muitos, demasiados mas nada que não estejamos habituados a ver… a ver… De repente estamos a ouvir buzinadelas e falta de paciência, nada que nós portugueses não estejamos também habituados a vivenciar. “Deve ser hora de ponta”, pensamos, mas não estamos a ver uma cidade portuguesa por tal estas manifestações de falta de paciência lusa não acontecem todos os dias. Algo se passa… e passa, alguém está parado no meio da via “Palhaço” pensamos. O condutor está aflito e não está a conduzir “Palhaço”, continuamos a pensar… Aos poucos percebemos que ficou cego “Palhaço ce…ups” pensamos. “Cego?... Como cego?” Começamos a demonstrar preocupação com a forma de ele sair dali. Não conseguimos imaginar como é que ele vai tirar dali o carro e para mostrar que aquela não é uma cidade portuguesa