Ensaio Lis strata
Aristóteles,
A política, Livro I, capítulo III
Em uma primeira leitura desatenta, temos a impressão de que a peça “Lisístrata”, escrita por Aristófanes e encenada pela primeira vez em 411 a.C, contradiz a palavra de Aristóteles, tão considerada entre os gregos (e pelas sociedades que vieram depois). Como é possível que, em uma sociedade como a ateniense, onde as mulheres sequer são consideradas cidadãs com autonomia, uma peça as coloque como protagonistas, exercendo direitos políticos? A função desse ensaio é demonstrar que, na verdade, não era possível. Tendo em vista as origens do teatro grego, e sua função na sociedade ateniense, observase que essa peça, ao contrário, reafirma o papel da mulher na sociedade ateniense tal como o conhecemos: submissa ao marido e silenciosa.
A origem do teatro grego está profundamente ligada ao exercício religioso. Em suas formações mais antigas, as comunidades1 gregas eram organizadas em pequenos grupos de base familiar, separados entre si pela geografia local, cada um com suas divindades e heróis próprios. A função do herói nessas comunidades é muito específica: embora não seja tão dotado de poderes quanto os deuses, ao herói é atribuído algum poder que se relaciona diretamente com a comunidade, seja um mito de formação ou de proteção (ou ambos). Sendo dotado de poder sobre aquela comunidade, o herói podia dispor do futuro da mesma conforme o seu humor, então ao herói se faziam sacrífícios e homenagens, para que a situação fosse sempre harmoniosa. Depois de um tempo, os mitos sobre o herói e os deuses se tornaram mais ou menos fixos, sendo temas conhecidos por todos naquela comunidade, e às vezes para fora dela. Essas homenagens aos heróis eram feitas através dos coros ,