ensaio guimarães rosa
Em seu ensaio, Adorno fala da existência de uma certa ingenuidade no discurso de quem conta histórias e na forma como esse discurso é empregado. Podemos afirmar que esta relação ingênua no ato de contar histórias é assegurada pela naturalidade com que o narrador e o ouvinte se envolvem com aquilo que é narrado. O autor ainda diz que “A precisão da linguagem descritiva busca compensar a inverdade de todo o discurso.” (2003, p.51) Esse fator pode ser observado em vários momentos da narrativa “O burrinho pedrês”. Como vemos em:
“Alta, sobre a cordilheira de cacundas sinuosas, oscilavam a mastreação de chifres E comprimiam-se os flancos dos mestiços de todas as meias-raças plebeias dos campos-gerais, do Urucuia, dos tombadores do rio Verde, das reservas baianas, das pradarias de Goiás, das estepes do Jequitinhonha, dos pastos soltos do sertão sem fim.” (p.31)
O narrador busca contar fatos verossímeis e sem grandes elaborações, para torna-los eventos particulares, algo digno de nota (Adorno, 2003, p. 51), que detenha a atenção do ouvinte. Em “O burrinho pedrês”, conforme o narrador principal conta a história da vida do burrinho, outras histórias são contadas por outros narradores. Os personagens ganham voz e que descrevem o cotidiano do boiadeiro. Uma das histórias dos narradores-personagens que mais chamam atenção é a contada por Raymundão, sobre o boi Calundu:
“Eu tinha ido lá, buscar uma vaca fronteira, da filha de seu Major. A vaquinha tinha parido na beirada da lagoa, e jacaré comeu a cria. Por isso ela estava emperreada, tinha virado bicho-do-mato, correndo atrás de qualquer barulhinho, arremetendo à toa. [...] De noite, saiu uma lua rodoleira, que alumiava até passeio de pulga no chão. [...] quando fui espiar o que minha cachorra