Ensaio do poema "O Bicho" de Manuel Bandeira
"O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem."
Manuel Bandeira
Comentário:
Manuel Bandeira foi um escritor que apreciava escrever sobre vários assuntos, entre eles o amor, a efemeridade da vida e as questões socio-políticas. Teve uma vida muito complicada, queria ser arquiteto, porém a tuberculose que o acompanhou pela maior parte da sua vida não permitiu. Na época em que viveu, a cura ainda não existia, e foi descoberta pouco tempo após sua morte. Doente dos pulmões, Bandeira sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra. Nasceu em Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968 devido a uma hemorragia gástrica. Viveu até os 82 anos, construindo uma das maiores obras poéticas da literatura moderna brasileira.
Era poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura, tradutor brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 29 de agosto de 1940, na sucessão de Luís Guimarães e recebido pelo Acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940. Bandeira se inseriu no quadro de poetas modernistas brasileiros, assim como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, trio de escritores mais importantes da primeira fase modernista (1922 – 1930), que foi a fase responsável pela divulgação e solidificação desse movimento no Brasil.
Considerado um dos pais do modernismo brasileiro, Bandeira escrevia de forma simples e direta, fazendo críticas ao parnasianismo e seu rigor com a metrificação e formalidade, como no famoso poema Os Sapos, que foi recitado entre vaias e gritos durante a Semana de Arte Moderna, por Ronald de Carvalho, que ocorreu em São Paulo no