Enfoques missionários
Preconceito Linguístico? Tô fora! Parece haver cada dia mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra os preconceitos, a mostrar que eles não tem fundmento e que são apenas o resultado da ignorância e intolerância. Infelizmente, porém, essa tendência não tem atingido um tipo de preconceito muito comum na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. Muito pelo contrário, o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, sem falar, é claro, nos métodos tradicionais de ensinar a língua. O preconceito linguístico fica bastante claro em certo tipo de afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada por aqui. Vamos examinar algumas e ver em que medida elas são, na verdade, mitos e fantasias que qualquer análise científica mais vigorosa não demora a derrubar. [...]
"As pessoas sem instrução falam tudo errado" O preconceito linguístico se baseia na crença de que "só existe uma língua portuguesa digna deste nome" e que seria a língua falada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, pelo preconceito linguístico, "errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente", e não raro a gente ouvir dizer que "isso não é Português". Um exemplo. Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é vista como um "defeito de fala" mas
às vezes até como um sinal do "atraso mental" das pessoas que falam assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrirque não estamos diante de um "defeito de fala" descobrir que não estamos diante de um "atraso mental" dos falantes "ignorantes" do Português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da